A realidade não é enfadonha, chata e atemorizante por ser o que é, mas por que a consideramos e a aceitamos exatamente por sua aparente materialidade e estabilidade no tempo e espaço.
Vivemos em tempos nos quais há uma necessidade efetiva de reproduzir a realidade.
Há toda uma literatura filosófica e uma produção artística, em verso, prosa, imagem e som, sobre a natureza do real, sua percepção pelos sentidos, seus efeitos sobre o nosso aparelho psíquico.
A fixação no real ou em produzir a “realidade” é o desejo de ver nas várias reproduções do real a sensação ou uma certa segurança – falsa – de que não estejamos enlouquecendo, que não estejamos tendo alucinações do “real”, ou seja, é um senso ilusório de controle sobre os sentidos. Essa mesma fixação no “real” e a inevitável, consequente fuga ou falha de apreender a realidade – o que quer que ela seja ou a forma como ela é entendida ou captada pela mente humana – causa ansiedade, medo, depressão. Nesse sentido, a busca pelo real se torna o próprio pesadelo da realidade ou, paradoxalmente, ora, a própria realidade que se almeja reproduzir como imagem e semelhança e da qual não conseguimos fugir. Assim, estamos todos vivendo nossos pesadelos da “realidade”. Isto é, uma cópia, da cópia, da cópia de algo (realidade) que nunca conseguiremos capturar ou entender.
Um caminho seria entender o real como ficção, como imaginação ou vontade de poder sobre o mundo material e espiritual (mente). Quando entendemos que não há real, a poesia começa a fazer sentido e logramos o vaticínio, o significado-significante, o drone, o dígito binário. A ficção, a imaginação, a criação e a poesia são a única realidade possível. Saímos da natureza e sobrevivemos como raça humana por causa da ficção e da imaginação e a ela devemos graças.